terça-feira, 11 de setembro de 2012

não há educação sem educação física



Por Catalina Pestana

Trabalhei quarenta anos como professora, em todos os níveis de ensino.
Aprendi muito. Senti sempre o meu trabalho como uma vertente compensadora da minha vida. Gosto mesmo do processo ensino/aprendizagem.
Li com preocupação o Decreto-Lei nº 129/2012, documento sobre a revisão curricular. No que à Educação Física e Desporto Escolar diz respeito, as orientações são, no mínimo, desastrosas.
Vejo-as mesmo como um retrocesso civilizacional.
Os alunos não são só pessoas do pescoço para cima.
Mesmo os que têm 20 valores a Matemática e terminam o secundário a dominar quatro línguas.
Os humanos precisam de se desenvolver de forma harmoniosa e global.
Na Antiguidade, quando não se falava ainda ‘eduquez’, já se sabia e se praticava o resultado destas premissas.
Mens sana in corpore sano.
Não há educação sem Educação Física, com o estatuto curricular de qualquer outra disciplina.
Dela depende a acção preventiva sobre factores primordiais da saúde, a aquisição de estilos de vida saudáveis, a abordagem de matérias onde o esforço físico, o raciocínio, a cooperação, a superação e resolução de problemas são aprendizagens estruturantes, mais que o Latim ou a Matemática.
Quando, muito antes de exercer o poder, o senhor ministro (que estimo e respeito) nos começou a falar em ‘eduquez’, encarei o facto com a tolerância dos velhos perante os radicalismos com que os mais novos criticam o que não fizeram. ‘É sério e inteligente, chegará ao equilíbrio’ – pensei eu.
Chegou ao poder e há sinais preocupantes: mega agrupamentos de escolas, hiper valorização das áreas conceptuais em detrimento de todas aquelas que potenciam outras competências e aprendizagens, e agora a Educação Física a caminho de ser diluída numa área a que chamam ‘Expressões e Tecnologias’.
Senhores professores doutores: poderão explicar-nos as razões científicas e de natureza curricular que fundamentam tal agregação?
Entre 1991 e 1997 coordenei, no Ministério da Educação, um programa que envolveu 550 escolas de todos os níveis de ensino. O pretexto era a prevenção de comportamentos de risco, nomeadamente o uso/abuso de drogas.
O programa foi avaliado por duas universidades públicas, desde a sua concepção.
Para além da redução dos consumos, as escolas que dele beneficiaram reduziram o insucesso escolar, bem como o abandono escolar.
O núcleo duro do trabalho desenvolveu-se a partir da Educação Física e do Desporto Escolar.
Organizem-se, pois! Porque não é coerente o Ministério da Saúde estar alarmado com os problemas da obesidade e da diabetes entre crianças e jovens – e, ao mesmo tempo, a escola pública legislar no sentido de despromover o único factor preventivo eficaz, que deve chegar, tão precocemente quanto possível, a todos os cidadãos.
Em 1923, Vladimir Illich Ulianov dizia: «Precisamos de poupar muito… em tudo… menos na Educação». Até ele percebia.
 
@ SOL

vale a pena pensar nisto...

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